Alimentação Seletiva no TEA: Como Lidar com a Recusa Alimentar
🍽️ Entendendo a Alimentação Seletiva no Autismo
A alimentação seletiva é um dos desafios mais comuns e impactantes enfrentados por famílias de crianças com o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Para muitos pais, oferecer refeições se torna um momento de estresse, frustração e preocupação.
Mas afinal, o que caracteriza uma alimentação seletiva no TEA?
Crianças com seletividade alimentar geralmente restringem o cardápio a poucos alimentos , recusam grupos alimentares inteiros (como frutas ou vegetais) e podem reagir com choro, ânsia ou sofrimento extremo diante de novidades à mesa.
Estudos mostram que até 70% das crianças com TEA apresentam algum grau de seletividade alimentar (Cermak et al., 2010).
🧠 Por que isso acontece? Entendendo como Causas
A alimentação seletiva no autismo tem causas sensoriais, comportamentais, neurológicas e emocionais . Algumas das principais incluem:
👃 Hipersensibilidade sensorial
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Crianças com TEA podem ser extremamente sensíveis ao cheiro, sabor, textura e aparência dos alimentos .
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Um simples “toque molhado” de uma fruta pode ser aversivo.
⏱️ Rigidez comportamental e apego à rotina
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O TEA está associado à necessidade de previsibilidade . Isso se estende à alimentação: a criança pode preferir sempre o mesmo alimento, marca, cor ou apresentação .
😖 Experiências negativas anteriores
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Náuseas, engasgos, refluxo ou forçação alimentar anterior podem gerar traumas e fobias alimentares.
💬 Comunicação limitada
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Dificuldades na linguagem podem tornar-se mais difíceis de expressar desconforto ou preferências , resultando em recusa.
🧩 A Terapia ABA e a Alimentação
A Terapia ABA (Análise do Comportamento Aplicada) é amplamente utilizada para ajudar crianças com TEA a desenvolver habilidades – inclusive relacionadas à alimentação.
Em casos de seletividade alimentar, a ABA ajuda a:
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Analisar o comportamento alimentar atual (o que a criança come, quando, onde, como)
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identificar reforçadores positivos (recompensas que motivam a criança)
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Modelar novos comportamentos alimentares com técnicas específicas, respeitosas e baseadas em evidências
Importante: ABA moderna e humanizada não força a alimentação , mas promove a aproximação positiva, gradual e sem traumas .
🧸 Técnicas Respeitosas e Estratégias Sensoriais
Aqui estão estratégias práticas, respeitosas e eficazes , combinando princípios da ABA com ajustes sensoriais e emocionais.
🖼️ 1. Estimule o contato visual e emocional com o alimento
Antes de comer, a criança precisa se familiarizar visual e sensorialmente com o alimento.
Exemplos práticos :
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Deixe o alimento no prato, mesmo que ela não vá comer.
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Brinque de "fazer caretas" com frutas ou legumes cortados.
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Incentivo que toque, cheire ou ajude a preparar.
👉 Esse é o passo 1 na categoria alimentar da ABA : tolerar a presença do alimento .
📊 2. Use reforçadores positivos
Na ABA, os reforçadores são recompensas imediatas que aumentam a chance de um comportamento se repetir.
Como aplicar :
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Após a criança experimentar um novo alimento (mesmo que só toque ou lamba), ofereça algo que ela goste: um elogio, um brinquedo, uma música.
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Ex: "Uau! Você cheirou o brócolis! Agora pode brincar com a bolha de sabão!"
⚠️ Importante: O reforço deve ser imediato, claro e motivador para a criança.
🔄 3. Faça aproximações sucessivas (técnica do molde)
Essa técnica da ABA consiste em aproximar a criança gradualmente do comportamento desejado .
Etapas para introduzir um novo alimento :
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Tolerar o alimento no prato
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Tocar o alimento
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Levar à boca e cuspir
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Morder e cuspir
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Engolir uma pequena parte
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Comer pequenos detalhes com conforto
🧠 Cada etapa pode levar dias ou semanas — dependendo do ritmo da criança.
👅 4. Explore texturas de forma lúdica
A recusa alimentar está ligada a hipersensibilidades táteis e orais . Trabalhar com texturas fora do contexto da alimentação pode ajudar.
Atividades sensoriais recomendadas :
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Massinhas com texturas diversas
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Banho sensorial com grãos (arroz, lentilha)
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Escovação oral (com orientação profissional)
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Pintura com os dedos usando iogurte ou purês
📆 5. Estabeleça rotina e previsibilidade
Crianças com TEA se sentem mais seguras quando sabem o que vai acontecer .
Sugestões :
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Horários fixos para refeições
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Mesmo locais e favoritos
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Usar rotinas visuais (fotos ou desenhos mostrando o passo a passo: lavar as mãos, sentar, comer, limpar a boca)
🍽️ 6. Oferecer opções dentro de limites
Dar escolha controlada reduz a chance de crise.
Exemplo :
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"Hoje temos cenoura e pepino. Qual você quer no prato?"
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"Você quer o suco no copo azul ou vermelho?"
🎯 A criança sente autonomia , mas dentro do que é saudável.
❌ O Que Evitar
Evite práticas que agravem a recusa alimentar :
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Forçar ou cantar a criança a comer ("se não comer, vai ficar de castigo")
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Oferecer reforço negativo ("se comer o feijão, não precisa fazer a tarefa")
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Troque refeições por alimentos ultraprocessados só para garantir que coma "algo"
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Gritar, ameaçar ou castigar
Essas estratégias criam trauma, reforçam comportamentos de recusa e afetam o vínculo com a comida e com os cuidadores.
📚 Evidências Científicas
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Cermak, Curtin & Bandini (2010) : Crianças com TEA apresentam maior seletividade alimentar e aversão sensorial do que crianças típicas.
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Sharp et al. (2013) : Estudo com aplicação da ABA mostrou melhora significativa na acessibilidade alimentar quando aplicadas estratégias de aproximação gradual e reforço positivo.
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Kuschner et al. (2015) : Destaca a importância da dessensibilização sensorial como parte do processo alimentar no TEA.
🩺 Quando Procurar Ajuda Profissional?
Procure profissionais especializados em:
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A criança come menos de 10 alimentos no total
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Há perda de peso, desnutrição ou sinais de deficiência nutricional
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A alimentação interfere gravemente na vida familiar
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Há um histórico de engasgos, vômitos ou recusas severas
🧑⚕️ Equipe ideal:
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Terapeuta ABA com foco em alimentação
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Nutricionista infantil especializada em TEA
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Terapeuta ocupacional com integração sensorial
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Fonoaudiólogo (quando há questões orais)
💬 Conclusão: Comer Pode Ser um Encontro de Amor
A alimentação no autismo não é apenas uma questão de nutrição — é também sensorial, emocional, social e afetiva.
Forçar, brigar ou desistir não ajuda. Mas com paciência, técnicas adequadas e respeito ao tempo da criança, é possível transformar a relação com a comida .
Não espere mudanças da noite para o dia. Cada pequeno avanço merece ser comemorado. Lembre-se: a conexão vem antes da refeição . E todo progresso começa com um passo.
Foto de Mikhail Nilov: https://www.pexels.com/pt-br/foto/comida-alimento-refeicao-legumes-8119991/
Foto de Keira Burton: https://www.pexels.com/pt-br/foto/sem-rosto-dentro-crianca-filho-6624321/
Foto de Foto Por: Kaboompics.com: https://www.pexels.com/pt-br/foto/comendo-comida-alimentacao-fofo-7946619/
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